sábado, 7 de janeiro de 2012

o livro em seis passos o que ...


Em Seis Passos: O LIVRO

Incorporado por   PAULO BRABO

Estocado em Livros

Agora sim: Em 6 passos o que faria Jesus foi lançado em setembro de 2009 pelos impenitentes daGarimpo EditorialSe não encontrar o livro na livraria mais suspeita ou mais próxima, você pode comprá-lo online no sáite da Garimpo.
O último capítulo, que deve amarrar todo o conteúdo anterior (para quem acha esse tipo de coisa necessária), estará disponível apenas na edição em papel; chama-se Além da memória e foi instigado por uma sacada do insubmisso Rondinelly Gomes de Medeiros.
O livro não tem capa, mas com conteúdo tão precário quem precisa dessas definitudes? Partamos sem entraves para as entranhas.

EM SEIS PASSOS QUE FARIA JESUS

 da série EM SEIS PASSOS QUE FARIA JESUS
TERCEIRO PASSO: Desfrute sem possuir
 Os primeiros passos, embora imprevisíveis e portanto virtuosos, são essencialmente cosméticos e relativamente pouco exigentes. Tudo começa a se desequilibrar quando se fala em dinheiro, e Jesus demonstra não ignorar isso. Ele então fala em dinheiro o tempo todo.


Nisso está outro aparente paradoxo seu: o Filho do Homem, que ostentava aos quatro ventos não ter salário nem casa própria, usava descaradamente o dinheiro e as riquezas para desenhar suas imagens e comparações mais fortes. Por um lado, não há como ignorar que sua postura geral é consistentemente crítica à obsessão – não desconhecida na sua época, inescapável na nossa – pelo acúmulo de bens materiais; por outro, fica claro que Jesus não ignora que a riqueza é muitas vezes a metáfora mais adequada, verdadeiramente essencial, para o que ele está querendo dizer.

Jesus, o frugal, o maltrapilho, não hesita em comparar o reino de Deus ao tesouro enterrado em quem alguém tropeçou, ou à pérola valiosa que um colecionador vendeu tudo que tinha para adquirir. Ele alerta que o tesouro de um homem e seu coração ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo, e que vale por isso mais à pena investir num tesouro no céu, onde ariqueza é imune a desvalorização e à apropriação indébita. A recompensa do reino é comparada a denários na parábola de Mateus 20, o perdão a uma dívida quitada em Mateus 18, e as responsabilidades do reino a talentos de ouro em Mateus 25 – isso para não sair do primeiro evangelho.

Provocativamente, como em tudo que fazia, Jesus acaba propondo que a esfera de Deus e seu imponderável domínio podem ser adequadamente comparados àquilo que associamos de forma mais imediata ao valor, ao desejo e à satisfação – não o sexo, não o amor, não o poder, mas o dinheiro (em que estão contidos os anteriores). A vida encontrada em Deus é apenas comparável à moeda que foi recuperada, à rês valiosa que se reencontrou: o tesouro que por um lado vale todo investimento, por outro o requer.

Em suma, usando as imagens de seu oponente, Jesus defende que riqueza material é, estritamente falando, contradição em termos. A única verdadeira riqueza, e inexpugnável, é a do espírito. Ele, no entanto, está longe de propor um ascetismo em qualquer sentido rigoroso; está longe de propor a mortificação dos sentidos que muitos (sem motivo) associaram à sua postura. Ao mesmo tempo em que garante que não vale à pena correr atrás do material, ele convida-nos a desfrutar incessantemente dele: olhai os lírios do campo, qual pai daria ao filho uma pedra em vez de pão, estou resolvido a jantar na sua casa, aceite este sanduíche de peixe, reabasteça meu copo de vinho, fui outro dia a um banquete, mais feliz que o convidado só o anfitrião da festa. Como diagnosticou Wilhelm Reich, Jesus é um homem inteiramente mergulhado no mundo da satisfação dos sentidos, talvez mais do que qualquer outro – sem que isso prejudicasse a sua reputação de homem espiritual.

É um equilíbrio que nos parece paradoxal, mas Jesus no fim das contas está dizendo que o pobre e o frugal estão melhor equipados para desfrutar das boas coisas da vida – não em virtude de qualquer pureza inerente de coração, mas simplesmente porque a limitação da sua condição força-os a valorizar o momento, que é no fundo o que todos tem. “Por mais empenhado que esteja, qual de vocês consegue adicionar meio metro à sua estatura?”

Para o rabi de Nazaré ser rico e ganancioso não é conduta especialmente corrupta ou perversa – está mais para o imbecil. Porque, ele ousa argumentar, correr atrás do material impede-nos precisamente de desfrutá-lo. O mais rastaqüera lírio do campo ostenta guarda-roupa mais exuberante do que o de Salomão; os pássaros banqueteiam-se e empanturram-se com mais gosto do que Herodes. Um pão de queijo no pé da serra desbanca o mais irretocável Boeuf Bourguignon. Uma caminhada ao lado de quem se ama sobrepuja o interior vazio de uma Ferrari. Um pé descalço é mais feliz do que o calça Mr. Cat. E assim por diante.

Seguir esse insano passo de Jesus requer ao mesmo tempo um intransigente desapego às coisas materiais e um deleite imoderado em desfrutar do que o material existe para fornecer. Exige desfrutar sem possuir.

Não quer dizer abrir mão do trabalho ou do dinheiro, visto que Jesus indiscutidamente convivia sem problemas com ambas as coisas. Não quer dizer abrir mão dos prazeres da vida, já que neste mundo o prazer é coisa tão comum que para abrir mão dele seria necessário abrir mão da vida. Trata-se, aparentemente, de ser e permanecer uma presença subversiva numa cultura que glorifica a incessante busca pela aquisição e pela acumulação. Trata-se de demonstrar em atos revolucionários e postura silenciosa que uma bem-direcionada frugalidade supre com folga e, no fim das contas, desqualifica e esgota essa abundância ilusória.

Significa, certamente, abrir mão do que o dinheiro existe para epitomizar: a segurança e o poder. Deve ser por várias razões que corremos atrás de dinheiro, mas correndo atrás dele confessamos carecer desesperadamente da sua credencial. Para os autores do Novo Testamento a ganância é idolatria porque é essencialmente mentirosa – promete segurança e poder quando ambos são derramados sem qualquer critério ou pré-requisito por Deus. O mundo de Jesus é seguro não porque os meus cofres e celeiros estão cheios, mas porque Deus é Pai. A ganância é mentirosa porque promete embalar e entregar, a seu preço, aquilo que Deus dá de graça no pacote básico da vida.

Viver como Jesus é certamente viver à margem do culto da performance. Alguns lírios talvez sejam mais bonitos do que os outros, mas a sua beleza essencial está em serem, não em estarem. Alguns pardais talvez cantem melhor do que os outros, mas nenhum é em última instância mais feliz porque canta melhor – e Deus sabe quando cai cada um, indiscriminadamente. Isto é, nosso valor não está em acumular, em desempenhar ou em possuir, mas em desfrutar, que é ser.

Viver assim não é também cultivar o ócio, mas é certamente não abrir mão da tranqüilidade e do autogoverno.

Não é por certo condenar os ricos ou evitá-los; tampouco é condenar a riqueza ou evitá-la. É por certo duvidar das promessas dos dois.

Para seguir os passos de Jesus é preciso abraçar o assombroso paradoxo de desfrutar sem possuir. O Apóstolo intuiu acertadamente essas coisas, e falou que devem ser “os que choram, como se não chorassem; os que se alegram como se não se alegrassem; os que compram como se nada possuíssem; os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa”. Para ser como Jesus é preciso não viver para a riqueza e, ao mesmo tempo, não ignorar o seu poder de metáfora. É preciso não dobrar-se a Mamom, mas fazer uso descarado das riquezas a fim de fazer verdadeiros amigos (Lucas 16:9). É preciso usar o dinheiro sem ser usado por ele; extrair gozo do material sem ser desfigurado por ele. É preciso ser generoso como Deus, pobre como Jesus. Dar a César a ninharia que é de César, receber de Deus a abundância que é de Deus.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Medo da vida (parte 1


Medo da vida (parte 1)

Você pode tornar tudo positivo somente se você tornar-se positivo em relação à vida. Mas nós não somos positivos em relação à vida. Por quê? Por que nós não somos positivos em relação à vida? Por que nós somos negativos? Por que essa luta constante? Por que nós não podemos ter uma entrega total à vida? Qual é o medo?

Você pode não ter observado: você tem medo da vida –muito medo da vida. Pode soar estranho dizer que você tem medo da vida, porque comumente você sente que tem medo da morte, não da vida. Essa é a observação usual, que todo mundo tem medo da morte. Mas eu lhe digo: você tem medo da morte somente porque tem medo da vida. Aquele que não tem medo da vida não terá medo da morte.

Por que nós temos medo da vida? Três razões. Primeira: seu ego só pode existir se ele for contra a corrente. Flutuando corrente abaixo, seu ego não pode existir. Seu ego só pode existir quando ele luta, quando ele diz "não". Se ele disser "sim", sempre "sim", ele não poderá existir. O ego é a causa básica de dizer "não" a tudo.

Olhe os seus modos, como você se comporta e reage. Olhe como o "não" vem imediatamente à mente, e como o "sim" é muito, muito difícil – porque com o "não" você existe como um ego. Com o "sim", a sua identidade fica perdida, você se torna uma gota no oceano. Não há nenhum ego no "sim"; eis por que é tão difícil dizer sim – muito difícil.

Você está me entendendo? Se você está indo contra a corrente, você sente que você existe. Se você simplesmente se entrega e começa a flutuar com a corrente aonde quer que ela o conduza, você não sente que você existe. Então, você se tornou parte do rio. Esse ego, esse pensar-se isolado como um "eu", cria a negatividade à sua volta. Esse ego cria as ondulações de negatividade.

                  

Osho, em "O Livro dos Segredos"