segunda-feira, 26 de setembro de 2011

JESUS CRISTO A TRADIÇÃO ESOTÉRICA




Jesus Cristo como Hierofante instituiu alguns rituais secretos, visando facilitar a expansão de consciência de seus discípulos. Além da menção da instituição do batismo e da eucaristia (Mt 26:26-28; Mc 14:22-25; Lc 22:14-20; Jo 6:52-59), um importante registro que temos desses rituais na Bíblia é a curta e enigmática menção do hino cantado por Jesus e seus discípulos (Mt 26:30 e Mc 14:26).

Esse ritual foi parcialmente preservado num documento apócrifo conhecido como Atos de João e, mais tarde, publicado como O Hino de Jesus. No rito do Hino, os discípulos aparecem num círculo, segurando as mãos uns dos outros. Jesus entoava invocações no centro da roda e seus discípulos respondiam Amém, movendo-se em círculo.


O poder do Hino pode ser aquilatado por algumas estrofes: Glória a Ti, Pai! Glória a Ti, Verbo! Glória a Ti, Graça! Glória a Ti, Espírito! Glória a Ti, Sagrado Um! Glória a Tua Glória! e o rito continuava com seu ritmo envolvente, conduzindo os participantes a elevados níveis de consciência.


No Hino encontram-se declarações de caráter esotérico tal como: E agora responde ao Meu dançar! Veja a ti mesmo em Mim que falo; e vendo o que faço, guarda silêncio sobre os Meus Mistérios. E uma afirmação que antecipa descobertas psicológicas de Jung nesse século: Se tivesses sabido como sofrer, terias o poder de não sofrer. Conhece (pois) o sofrimento, e terás o poder de não sofrer.


Outro importante ritual oficiado por Jesus é descrito nos evangelhos canônicos de forma tão velada que é geralmente interpretado como um milagre?. Trata-se da assim chamada ressurreição de Lázaro. Se tomarmos a passagem em João (Jo 11:1-43) veremos que todo o relato assume um caráter curioso devido ao comportamento de Jesus face às notícias sobre Lázaro.


Para aqueles familiarizados com os rituais esotéricos, esse aparente milagre é a forma alegórica de descrever o ofício de um elevado rito de mistério no qual o iniciado entra em transe por três dias. . Ao fim do terceiro dia, o hierofante, nesse caso Jesus, usando palavras de poder, desperta-o de seu transe. Em outra passagem, Jesus refere-se a esse profundo mistério quando diz: Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei (Jo 2:19). Compreende-se, portanto, porque Tomé queria também passar por aquela iniciação.


O fato da maior parte das referências aos mistérios de Jesus encontrarem-se nos evangelhos gnósticos não significa que os padres da igreja dos primeiros séculos desconhecessem os mistérios.

Alguns eram até mesmo iniciados neles. Existem inúmeras referências veladas nas epístolas de Paulo, o grande iniciado, usando a linguagem técnica dos mistérios, como por exemplo: Como bom arquiteto, lancei o fundamento, outro constrói por cima (1 Co 3:10); É realmente de sabedoria que falamos entre os perfeitos, sabedoria que não é deste mundo nem dos príncipes deste mundo, votados à destruição.

Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que Deus, antes dos séculos, de antemão destinou para a nossa glória (1 Co 2:6-7).[6]


Alguns discípulos de Valentino, na segunda metade do século II, diziam ter recebido os ensinamentos secretos de Paulo, os mistérios profundos que o apóstolo ministrava somente a uns poucos discípulos escolhidos, em segredo.


Vale mencionar que, dentre os tópicos da sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, de que fala Paulo, encontram-se ensinamentos sobre a reencarnação. Esse era um conceito corrente, aceito por boa parte dos povos da época de Jesus, em especial pelos essênios, grupo a que Jesus pertencia.


A Cabala, o ensinamento esotérico dos judeus, que Jesus dominava, pressupõe o conceito de mudança ou movimento da alma de um veículo para outro. É interessante notar que os fariseus aceitavam a reencarnação de uma forma curiosa, ou seja, que os justos voltavam à Terra assumindo outros corpos, para se aproximarem cada vez mais da perfeição, enquanto os iníquos não tinham a mesma oportunidade. O conceito de reencarnação era aceito entre os primeiros cristãos, até ser decretado em concílio como um conceito herético. Nesse sentido, diz-nos o bispo Leadbeater da Igreja Católica Liberal:


Jerônimo fala da crença na passagem da alma de um corpo a outro como presente no início do cristianismo. Orígenes, o maior de todos os padres da Igreja, sustentava-a forte e claramente, e é significativo que afirmasse não tê-la tomado de Platão, mas que ela lhe fora ensinada por São Clemente de Alexandria que, por sua vez, aprendeu-a de Panteno, um discípulo de homens apostólicos. Assim, temos uma afirmação clara de que a doutrina da reencarnação veio dos próprios apóstolos. Era um dos Mistérios da Igreja primitiva ensinado somente àqueles que eram dignos, que tinham ingressado no círculo interno de sua organização e haviam comprovado ser membros bons e confiáveis, aptos a receber em confiança os ensinamentos internos.


Com relação aos sacramentos é dito no Evangelho de Felipe que Jesus instituiu cinco e não sete sacramentos: O Senhor fez tudo num mistério, um batismo, uma crisma, uma eucaristia, uma redenção e uma câmara nupcial. A igreja romana manteve a mesma conotação iniciática para os três primeiros sacramentos em seus rituais. Assim, os sacramentos ministrados pela Igreja: batismo, crisma e eucaristia, ainda hoje, conferem certo grau de expansão de consciência a todos aqueles que os recebem no estado de espírito apropriado.


Os dois últimos sacramentos, no entanto, foram totalmente desvirtuados. O sacramento da redenção, conhecido na igreja primitiva como apolytrosis, a última etapa preparatória para o sacramento supremo da câmara nupcial, foi transformado na penitência, mais conhecida dos católicos como confissão. O significado original desse sacramento era a redenção da alma, quando o iniciado morria para o mundo e ressurgia liberto de todas as correntes de apego, inclusive da noção de um eu separado. A ressurreição de Lázaro, mencionada anteriormente, parece ser uma alegoria desse sacramento. A igreja romana, numa gritante contradição com os ensinamentos de Jesus a respeito da lei de causa e efeito, conferiu a seus prelados o suposto poder de perdoar os pecados por meio da confissão.


No sacramento da câmara nupcial, os discípulos avançados alcançavam a iluminação quando a alma devidamente purificada, referida como virgem, unia-se ao supremo esposo, o Cristo interior. Esse sacramento, mencionado claramente na literatura gnóstica, especialmente no Evangelho de Felipe, também é referido na Bíblia, de forma mais velada, na parábola do banquete nupcial (Mt 22:1-14) e na parábola das dez virgens (Mt 25:1-13). Esse sacramento também pode ser conferido internamente, como parece ocorrer com os místicos que alcançam as alturas espirituais.


J
an van Ruysbroeck, um dos maiores místicos católicos, escreveu, no século XIV, em Adornos do Casamento Espiritual, que Cristo é nosso noivo e Ele nos convida a vir a Ele. A igreja transformou esse elevado sacramento esotérico na cerimônia externa do matrimônio.

Assim, as palavras de Jesus: o que ligares na terra será ligado nos céus? (Mt 16:19), que se referia ao ritual esotérico de união em consciência da alma com o Espírito, foram usadas de forma indevida para o ritual exotérico da união matrimonial, criando um sofrimento desnecessário a milhões de casais, ao longo dos séculos, pois, quando se separavam, eram perseguidos pelo sentimento de culpa de estarem infringindo uma lei divina.


A Igreja Católica também instituiu dois outros sacramentos: a unção e a ordem, com isso estendendo suas atribuições e controle às atividades mais importantes da vida do ser humano, do nascimento à morte. A unção, ou melhor dito, a extrema unção, tem um paralelo com rituais semelhantes em outras tradições. Com o sacramento da ordem ficava instituída a sucessão apostólica na ordenação dos prelados.


Os cinco sacramentos internos de Jesus apresentam um estreito paralelo com os cinco estágios da vida mística e com as cinco grandes iniciações, como será visto no capítulo 27. Os discípulos só recebiam os sacramentos depois de um extenso trabalho preparatório, pois um sacramento eqüivale a um aporte energético de alta voltagem, que só podia ser recebido com segurança quando os veículos do postulante estivessem devidamente purificados.

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