sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Vida Secreta de Jesus

Instituto de Pesquisas Psíquicas Imagick
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O que fez Jesus Cristo dos treze aos trinta anos?
Foi iniciado em doutrinas esotéricas?
Teve dotes paranormais?
Viveu na Índia até a velhice, com mulher e filhos?

 

A cena é conhecida: a criança nasce na família e no local profetizados séculos antes e uma estrela se desloca para indicar em que parte do mundo uma virgem deu à luz o Filho de Deus, o Messias. Aos doze anos, o menino Jesus discute a lei de seu povo — os judeus — com os sábios do Templo. Corte brusco. O personagem reaparece com trinta anos de idade, sendo batizado e iniciando a fase de pregação. Seus ensinamentos reafirmam a doutrina mosaica, mas incluem preceitos revolucionários, como o perdão aos inimigos. E faz milagres: transforma água em vinho, multiplica alimentos, levita, transfigura-se, conversa com espíritos, cura doentes. Afinal, ressuscita a si próprio, antes de ascender ao céu.
Entre uma imagem e outra, o que aconteceu no tempo que passou? Os quatro narradores "oficiais" dessa história (Mateus, Marcos, Lucas e João) se contradizem, talvez por a Bíblia ter sido escrita muito tempo depois dos eventos, com base em textos mais antigos e na tradição oral.
Em cima das contradições e omissões, formularam-se hipóteses a respeito da vida secreta de Jesus. Algumas delas foram, em parte, confirmadas por outras fontes, como os manuscritos do mar Morto, descobertos em 1947.
Pode-se então especular sobre o aprendizado de Jesus (que na certa não se deu na casa do carpinteiro José e da jovem Maria), sua vida dos treze aos trinta anos, o caráter parapsicológico dos milagres, a morte na cruz, a sobrevivência ao martírio e até suas ligações conjugais.
Raízes do cristianismo
Essênios, fariseus e saduceus constituíam as seitas em que se dividia o judaísmo na época de Jesus. Os primeiros distinguiam-se dos demais por conservarem as tradições e o sistema de vida dos profetas. Tinham dois núcleos principais: um no Egito, à margem do lago Maoris, e outro na Palestina, em Engaddi, ao lado do mar Morto. Sua missão era curar doenças do corpo e da alma — o nome "essênio" provém do termo sírio asaya, que significa terapeuta.
Conforme espiritualistas de diversas correntes, Jesus, se não foi um essênio, pelo menos manteve contato com eles. O teósofo francês Édouard Schuré (1841-1929) afirma que Maria, mãe de Jesus, era essênia e destinara seu filho, antes do nascimento, a uma missão profética. Seria por isso chamado nazareno ou nazarita, como os outros meninos consagrados a Deus.
Harvey Spencer Lewis, dirigente máximo da Ordem Rosacruz das Américas do Norte, Central e do Sul, nas primeiras décadas do século XX, também afirma a origem essênia de Jesus. Segundo ele, Maria e José eram gentios (habitantes da Galiléia considerados "estrangeiros" pelos palestinos) pertencentes à Fraternidade Essênia, embora formalmente ligados à fé mosaica, de acordo com as leis locais.
 
A descoberta, em 1947, de antigos manuscritos em grutas próximas ao mar Morto — os "rolos do mar Morto" — reforçou essas hipóteses, mostrando com mais clareza o enraizamento da igreja cristã primitiva na Fraternidade Essênia.
No início dos anos 50, o arqueólogo inglês G. Lankester Harding, diretor do Departamento Jordaniano de Antiguidades, publicou um informe sobre o conteúdo dos seiscentos manuscritos e milhares de fragmentos encontrados no mar Morto. Diz ele que "a revelação mais espantosa contida nos documentos essênios até agora publicados é que a seita possuía, anos antes do Cristo, terminologia e prática que sempre foram consideradas especificamente cristãs. 
Os essênios praticavam o batismo e compartilhavam uma ceia litúrgica, de pão e vinho, presidida por um sacerdote. (...) Muitas frases, simbolos e preceitos semelhantes aos encontrados na literatura essênia estão no Novo Testamento, particularmeflte no Evangelho de João e nas epístolas de Paulo. (...) É significativo que o Novo Testamento não mencione uma única vez os essênios, embora lance freqüentes ataques a outras seitas importantes, a dos saduceus e a dos fariseus".
As evidências não param ai. E, em função delas, muitos estudiosos concluíram que a Igreja prefere não as considerar, porque as doutrinas que desenvolveu não se coadunam com o esoterismo dos essênios e, sobretudo, com sua crença na reencarnação.
Iniciação do Mestre
A ligação de Jesus com os essênios constitui a chave para a compreensão do mistério que envolve sua vida dos treze aos trinta anos.
Segundo ensinamentos esotéricos, nesse período o jovem essênio foi preparado para se tornar o habitáculo humano do Cristo, do Messias esperado não só pelos iniciados do mundo inteiro, mas por todos os israelitas. Inconformados com a vassalagem a Roma, os eleitos de Deus confiavam na vinda do Salvador.
A preparação de Jesus incluiu o estudo profundo das antigas religiões e das diversas seitas que influenciaram o desenvolvimento da civilização. Sua primeira e distante escola teria sido a India. Do monte Carmelo, na Palestina, onde se recolhera com os essenios, dirigiu-se com dois magos até Jaganate — atual Puri —, localidade que por séculos fora centro do budismo. Ali permaneceu por um ano, entre os mais sábios instrutores da doutrina do Buda.
 
Ao deixar Jaganate, Jesus visitou o vale do Ganges, parando por vários meses em Benares, onde começou a se interessar pelos métodos terapêuticoS hindus. Recebeu orientação de Udraka, considerado o maior de todos os curadores. Em seguida, percorreu diversas regiões indianas, tomando contato com a arte, as leis e a cultura de seus povos. Retornou a Jaganate para uma permanência de mais dois anos. Seu progresso foi tão notável que recebeu a incumbência de instruir, por meio de parábolas, os habitantes da pequena cidade de Katak.
Ao completar seus estudos na Índia, Jesus viajou para Lhasa, no Tibete, entrando em contato com Meng-Tsé, reputado como o maior de todos os sábios budistas. Dirigiu-se em seguida para Persépolis, na Pérsia (atual Irã), onde viviam os magos mais eruditos do país — conhecidos como Hor, Lun e Mer. Um deles, já bem velho, estivera na Judéia por ocasião do nascimento de Jesus, levando-lhe presentes do mosteiro persa. Sábios do país inteiro acorreram para trocar conhecimentos com o essênio. Foi nesse ponto da viagem que os poderes terapêuticos de Jesus se manifestaram.
Depois de um ano na Pérsia, ele e seus guias seguiram para a região do rio Eufrates, onde confabularam com os maiores sábios da Assíria. Já então o jovem Jesus se revelara um intérprete privilegiado das leis espirituais. Com seus aperfeiçoados poderes e métodos de cura, atraiu multidões nas aldeias da Caldéia e das regiões situadas entre os rios Tigre e Eufrates.
Em direção ao ocidente, Jesus atravessou a Babilônia, tomando conhecimento das provações sofridas pelas antigas tribos de Israel, quando levadas para o cativeiro. Esteve alguns meses na Grécia, sob o cuidado pessoal de Apolônio de Tiana, filósofo influenciado pela religião egípcia que o colocou em contato com pensadores atenienses e escritos antigos da cultura grega. Depois o nazarita cruzou o Mediterrâneo e chegou a Alexandria, para uma curta permanência. Visitou antigos santuários e conversou com mensageiros especiais que o aguardavam.
 
Agora Jesus se iniciaria nos mistérios, da Grande Fraternidade Branca, em Heliópolis. Essa organização, fundada por ancestrais de Amenófis IV, faraó do Egito, tivera desde sua origem a missão de congregar as pessoas mais sábias do país para discutir, analisar e preservar o Grande Conhecimento. Nos dez séculos anteriores ao Cristo, ramos da Grande Fraternidade Branca estabeleceram-se com denominações diversas em várias partes do mundo — e um deles eram os essenios.
Na etapa propriamente iniciática de sua preparação, Jesus passou por todas as provas que lhe confeririam o título de Mestre. Os últimos estágios transcorreram nas câmaras secretas da Grande Pirâmide, hoje conhecida como pirâmide de Quéops. Ali se realizou a primeira das ceias do Senhor. Após essa festa simbólica, de todos os pontos do Egito partiram mensageiros para proclamar a vinda do Salvador e anunciar o início de sua missão.
De volta à Palestina, Jesus foi batizado por João. 
 
Nesse momento, o Espírito Santo desceu sobre ele, criando um novo ser, o Cristo.
Os milagres de Jesus
Quando o Cristo despontou para o mundo, sua fama cresceu vertiginosamente. Durante três ou quatro anos ensinou e realizou milagres na Palestina e, se os registros merecem crédito, conseguiu inúmeras e fantásticas curas. Seus seguidores consideravam-no o Messias, o Filho unigênito de Deus, cuja vinda fora anunciada pelos profetas.
Não podiam, contudo, aceitar seus ensinamentos no tocante ao caráter espiritual do Reino de Deus. Esperavam vitórias bélicas ou políticas sobre os romanos e ficaram estarrecidos quando o Cristo aceitou sem resistência sua execução.
Para os representantes da religião judaica, cuja autoridade ele desafiou, o filho de José e Maria era um indivíduo arrogante e perigoso, que poderia causar problemas com seus dominadores temporais, os romanos. De acordo com o Evangelho, a situação atingiu seu clímax na festa da Páscoa, quando os chefes dos sacerdotes pactuaram com um hesitante governador romano para supliciar Jesus até a morte.
Deveria ter sido o fim de tudo. No entanto, na grande festa seguinte, Pentecostes, os seguidores do Cristo proclamaram que seu Mestre havia ressuscitado—com seu corpo físico—dentre os mortos. Saíram então pelo mundo, pregando com tal convicção que, num decênio, uma nova religião (o cristianismo) difundiu-se por quase todo o Império Romano.
 
O exame dos acontecimentos milagrosos relatados no Novo Testamento deve levar em consideração pelo menos três elementos: os registros, a verdade ou a falsidade de todos os fatos narrados e sua interpretação. Com exceção de uns poucos fragmentos, os manuscritos mais antigos do Novo Testamento datam do século IV d.C. e são cópias de cópias.
Parte do trabalho de estudiosos dos textos consiste em reconstruir os registros originais, por meio da comparação e compilação dos manuscritos remanescentes e da eliminação de erros, acréscimos e anotações de copistas e glosadores (intérpretes). O Evangelho de Marcos (Mc) foi escrito por volta de 65 d.C., quase trinta anos depois que os fatos aconteceram; o de Lucas (Lc), provavelmente no ano 70 d.C.; o de Mateus (Mt), no fim do século 1; e o de João (Jo), em torno do ano 100 d.C. Basearam-se em material escrito anteriormente, resultante de tradição oral, sobretudo depoimentos de testemunhas contemporâneas de Jesus.
Portanto, os céticos podem justificar o fantástico das narrativas bíblicas pela falibilidade da memória e o exagero inconsciente das recordações dos fiéis entusiasmados. Alguns acham até que registros muito posteriores à época dos fatos têm pouco ou nenhum valor.
Os cristãos ortodoxos podem alegar que os registros, inspirados pelo Espírito Santo, se basearam em recordações dos contemporâneos do Cristo; que fatos tão impressionantes teriam ficado gravados na memória; que uma simples ilusão não transformaria vidas nem causaria o impacto que a obra de Jesus causou na história; e que as investigações mais profundas feitas por críticos hostis não conseguiram destruir a estrutura principal da narrativa do Novo Testamento.
Elementos paranormais
Ao examinar os registros, deve-se levar em consideração as convenções literárias da época. As antigas narrativas não eram tão rigorosas como o estilo jornalístico do século XX, preocupado com a precisão das palavras e com o relato objetivo dos fatos. Considerava-se a interpretação mais importante que o evento — e os leitores sabiam disso.
Mateus, um judeu-cristão que escrevia para judeus, usava a técnica do midrash, ou seja, comentário edificante por meio de uma reconstrução imaginosa do lugar e do episódio narrado. Essa técnica valorizava poética e simbolicamente fatos que eram, talvez, maravilhosos por si sós, criando uma atmosfera estética e psicológica capaz de transmitir assombro ao leitor. Dessa forma, acompanharam o nascimento de Jesus o aparecimento de anjos, a estrela de Belém e a visita dos reis magos do oriente. Um tremor de terra, o rompimento do véu do Templo, a escuridão e o surgimento de espíritos nas ruas de Jerusalém assinalaram a morte (real ou alegada) de Jesus.
 
Talvez nenhum desses fatos tenha realmente ocorrido; para os fiéis, contudo, o que importa não são os acontecimentos físicos presenciados pelos homens, mas as experiências espirituais que simbolizam.
Outro costume judaico era o de se atribuir à ação de um "anjo do Senhor" a aparente intervenção de Deus nos acontecimentos e na vida dos homens.
Previsão e precognição mostram-se freqüentes no Novo Testamento, mas, segundo pesquisas, apenas como questão de fé. Jesus previu sua morte em Jerusalém no mínimo por três vezes. Também profetizou a destruição do Templo, que ocorreu em 70 d.C. Teve ainda conhecimento antecipado de que Pedro o negaria. Os registros dessas previsões, porém, foram escritos depois dos fatos e, portanto, não servem como prova do poder premonitório.
Experiências místicas, sonhos e visões aparecem em abundância. Se os sonhos de José (Mt 1, 20; 2, 13; 2,19; 2, 22) não são midrash, podem ser aceitos como dramatizações de soluções para problemas de que o marido da mãe de Jesus tinha ciência quando acordado. Marcos conta que Jesus, por ocasião de seu batismo, viu o céu se abrir e o Espírito Santo descer sobre ele em forma de pomba. Ouviu ainda: "Eis meu filho amado". Ninguém nas redondezas teria visto ou ouvido qualquer coisa. Tudo isso, portanto, estaria restrito a sua percepção pessoal.
A conversão de Paulo ocorreu quando uma luz do céu (talvez um relâmpago) o cegou temporariamente, durante uma viagem a Damasco, e uma voz lhe falou. Segundo ficou registrado em Atos dos Apóstolos (At 9, 7), a voz foi ouvida pelos companheiros de Paulo, enquanto At 22, 9 nega o fato. A discrepância não pode ser contornada, assim como não se pode negar que o maior perseguidor dos cristãos se tornou, após aquela experiência, seu principal defensor.
 
Existe também uma explicação psicológica possível. Assistindo à morte heróica de Estêvão, o primeiro mártir cristão (At 7), Saulo — depois Paulo — ficou convencido, em seu subconsciente, da verdade do cristianismo. A convicção colidiu violentamente com sua educação entre os fariseus (seita judaica que, ao contrário da cristã, mantinha estreita observância da lei mosaica). O conflito, portanto, teve de ser resolvido por uma experiência pessoal marcante.
É necessário, contudo, mais do que o recurso à psicologia para explicar a experiência de Pedro e Cornélio. Este último era um centurião romano que, recebendo o nome e o endereço de Pedro numa visão, mandou chamá-lo. Pedro, proibido pela lei judaica de entrar na casa de um não-judeu, teve uma visão sobre criaturas "puras" e "impuras". Recebendo a ordem de "imolar e comer", respondeu que jamais comeria qualquer coisa impura. "Não chame impuro o que Deus declarou puro", foi a resposta.
A visão coincide com a chegada dos emissários de Cornélio, e Pedro, com os escrúpulos removidos, visita o centurião, o qual se converte ao cristianismo. Assim, pela primeira vez, a nova fé é proclamada aos não-judeus (At 10).
O pesquisador do extra-sensorial pode ver nessa história um caso de percepção paranormal: os pensamentos dos romanos teriam alcançado os judeus e inspirado a reflexão — expressa numa visão — de que toda a humanidade era aceitável a Deus. Há, porém, mais uma dimensão no fato de que algo ou alguém, além dos dois homens, inspira as comunicações: um "anjo" que dá instruções a Cornélio e uma "voz" que fala com Pedro.
Alguns parapsicólogos acreditam que esse tipo de voz incorpórea é a exteriorização das convicções internas do indivíduo. Pode-se ouvir não só o que se quer, como o que se precisa. Os apóstolos ouviam vozes "divinas" em momentos críticos de suas vidas. A teoria da resposta instrumental psicomediada afirma que as orações são respondidas não por um agente externo, mas pela pessoa que reza (em casos de extrema necessidade ou fé). A resposta se daria por meio da ativação inconsciente de uma forma de psicocinese, pelo desenvolvimento de um poder mental. Muitos dos milagres bíblicos, embora pareçam inverossímeis, são comparáveis a experiências de hoje.
O maior dos milagres
Durante a missão de Jesus — época de grande efusão espiritual —, seus seguidores testemunharam o florescimento de poderes paranormais. Si existe alguma verdade nas estranhas experiências relatadas pelos iluminados através dos tempos, elas continuam a manifestar-se nas pessoas santas. Muitas das experiências místicas, tais como a glossolalia (falar em línguas desconhecidas), são psicologicamente explicáveis; outras, como alguns dos comprovados milagres de cura em Lourdes, na França, pertencem ao universo do inexplicado.
Ao mesmo tempo, um ponto de vista equilibrado precisa, com freqüência, do contrapeso de um ceticismo saudável e racional. Alguns dos milagres do Novo Testamento parecem ir de encontro à ética. O Cristo ensinou que seus seguidores devem amar até os inimigos. Seria compatível com esse preceito provocar a morte de trapaceiros, como fez Pedro a Ananias e Safira (At 5)? Foi ético da parte do Senhor da criação mandar maus espíritos sobre uma manada de porcos (Mt 8, 28-32), matando a todos por afogamento.
 
Existe certa possibilidade de que esses episódios, como também outros, tenham sido mal relatados, mas os cristãos preferem examinar cada milagre isoladamente e dele extrair o espírito do cristianismo ali figurado. Assim, o milagre de Jesus acalmar a tempestade no mar (Mt 8, 24) pode ser interpretado como o ato de um homem em tal sintonia com a natureza que podia ler seus sinais; e o de andar sobre o mar (Mt 14, 24) é um exemplo de levitação, considerado, em diferentes culturas e épocas, de domínio exclusivo dos santos.
Um aspecto notável da força de Jesus era sua capacidade de curar. A literatura sobre fenômenos paranormais está repleta de histórias de curas, muitas delas bem comprovadas; não há motivos para que a reputação de Jesus como terapeuta não seja aceita pelo valor que aparenta ter.
Algumas análises dos milagres de Jesus salientam também a força mental da fé da pessoa curada. E comum o Cristo dizer: "A tua fé te salvou". Além disso, em sua própria terra, "não fez muitos milagres, por causa da incredulidade de seus naturais", que lhe conheciam o pai, a mãe e os irmãos, e o encaravam como um ser humano comum (Mt 14, 53-58).
 
As ressurreições da filha de Jairo (Mt 9,18-26) e da viúva do filho de Naim (Lc 7,11-17) podem ter sido recuperações de um estado de coma ou catalepsia. A ressurreição de Lázaro (Jo 11) é uma questão à parte, não só por se tratar de um homem que voltou à vida quatro dias depois de enterrado, mas também porque os três primeiros evangelhos ignoraram esse milagre — tão impressionante que fez as autoridades judaicas decidirem destruir Jesus.
Há quem sugira que Lázaro se encontrava ‘‘morto para a vida eterna’’ (ou seja, estava em pecado), e que o Cristo o teria reconduzido à harmonia existencial. Todavia, existe a possibilidade de a narrativa ser verdadeira: aceita-se, hoje, que o líder hindu contemporâneo Sai Baba foi capaz de ressuscitar um homem cujo corpo começara a decompor-se.
Para os cristãos, porém, há um milagre de retorno à vida que constitui o fato mais notável e significativo de todos os tempos: a ressurreição física do próprio Jesus, três dias depois que morreu na cruz.
Jesus, aliás Yuz Asaf
Os cristãos tradicionais sempre insistiram em afirmar que seu líder morreu supliciado pelos romanos, ressuscitou fisicamente e ascendeu ao céu. Mas outras correntes de pensamento afirmam que o Mestre estava vivo quando o desceram da cruz, foi curado das feridas (talvez pelos essênios), e ainda ensinou, em relativo anonimato, até idade avançada.
 
Uma versão originária das montanhas do norte da India afirma que a crucifixão não matou Jesus — ele viveu até a velhice em Caxemira, chegando a se casar e ter filhos.
A cidade de Srinagar, nessa região indiana, abriga uma das descobertas arqueológicas mais preciosas e controvertidas do mundo. Em frente ao cemitério muçulmano, no centro da cidade, há um prédio retangular isolado, que ostenta uma placa com os dizeres: rauzabal (túmulo de um profeta). Do lado de dentro, numa placa de madeira entalhada, a inscrição "tumba de Yuz Asaf" indica a câmara que contém uma simples sepultura de pedra, reconhecida como monumento santo por um documento público datado de 1766.
O texto fornece alguns detalhes sobre o enigmático ocupante da tumba: "No reino do rajá Gopadatta (...) chegou um homem chamado Yuz Asaf. Ele era um príncipe real e renunciou a todos os direitos mundanos, tornando-se legislador. Passava os dias e as noites rezando a Deus e longos períodos em solitária meditação (...). Pregou a existência de um único Deus, até que a morte o dominou e ele morreu.
Parece um lacônico epitáfio para alguém que viveu, ensinou e morreu em Caxemira; mas esse santo, de acordo com a tradição local, não é outro senão o próprio Cristo (que pertencia à casa e família do rei Davi e portanto, de certo modo, era um príncipe real).
A afirmação de que Jesus morreu velho em Caxemira é sustentada não só pelos guardiães hereditários do túmulo em Srinagar, mas pelos adeptos (centenas de milhares) da seita muçulmana ahmaddiya. Esses crentes e vários estudiosos que simpatizam com sua causa reuniram interessante coleção de dados e fragmentos de informações históricas provenientes do Irá, Afeganistão, Paquistão e India. 
 
Com esse material, acreditam que podem escrever o capítulo final da vida do Cristo, desconhecido por completo pelos historiadores ocidentais não iniciados no esoterismo.
Depois de seus últimos atos descritos no Novo Testamento, Jesus — segundo os adeptos da seita ahmaddiya — deixou a Palestina para escapar à jurisdição romana e à possibilidade de ser novamente supliciado. Tomou a estrada para o norte, através de Damasco — ocasião da conversão de Paulo —, a fim de buscar refúgio junto às comunidades judaicas espalhadas no oriente. Acompanhado por Maria, sua mãe, atravessou os atuais Iraque, Irá e Afeganistão, indo até a India, por onde vagou pregando o monoteísmo e a piedade. No oriente, assumiu o nome de Yuz Asaf, que, em persa, significa líder dos curados de feridas.
Segundo alguns ensinamentos, Yuz Asaf viajava para Caxemira via Paquistão, quando sua mãe, já idosa, faleceu, sendo por ele mesmo enterrada na cidade de Murree, 50 quilômetros a noroeste da atual Rawalpindi. Outras fontes afirmam que ele viajou e ensinou pelo Ceilão (atual Sri Lanka), antes de chegar a Caxemira, onde viveu seus últimos dias. Foi enterrado por um discípulo em Srinagar, e até hoje se venera seu túmulo como um lugar sagrado.
 
De acordo com a tradição persa, Yuz Asaf foi persuadido pelo monarca indiano a tomar uma mulher local como serva, e ela, além de conforto doméstico, deu-lhe filhos. Sahibzada Basharat Saleem, poeta, político, editor de jornal e guardião oficial do túmulo, afirma ter pesquisado sua árvore genealógica e descoberto que descende de Jesus-Yuz Asaf.
 Marcas da crucifixão
As histórias a respeito de Yuz Asaf são genuinamente antigas e o fato de descreverem uma figura que tem extraordinária semelhança com o fundador da religião cristã merece muita consideração.
Al-Said-us-Sadig, estudioso islâmico do século X, relata uma história hindu da chegada do santo Yuz Asaf em Caxemira. Descreve suas longas viagens, sua morte e seu funeral, assim como seus ensinamentos sobre a abstenção dos desejos mundanos, o valor da humildade e a iminente vinda do reino dos céus. A inclusão de uma parábola sobre a verdade, que, como sementes espalhadas na estrada, cai tanto em solo bom como em solo ruim — semelhante à parábola do semeador, colocada na boca de Jesus Cristo pelo Evangelho de Marcos (Mc 4, 3-20)—, sugere que se trata do próprio Jesus Cristo. Sadig escreveu numa época em que os ensinamentos do Novo Testamento estavam disponíveis para os estudiosos muçulmanos e poderia ter acrescentado esses detalhes por conta própria. Mas as semelhanças mostram que a identificação de Jesus com Yuz Asaf data de pelo menos um milênio atrás.
As histórias sobre Yuz Asaf — reunidas pela seita ahmaddiya em fontes longínquas, como o Irã e o Sri Lanka — aumentam a convicção de que se está diante de um fac-símile do Cristo, se bem que em ambiente completamente estranho. A tradição o descreve como "um homem auspicioso, de tez clara e vestido de branco", que realizava milagres, comunicava-se com os anjos e dizia ser filho de uma virgem. De fato, todos os detalhes de sua personalidade e de seu comportamento são iguais aos do Cristo. Isso torna improvável que a tese resulte da interpretação cristã da vida de um genuíno santo hindu chamado Yuz Asaf. As tradições parecem estar falando claramente em Jesus Cristo. Um ponto em comum entre todas as narrativas é que ele era estrangeiro, um profeta do ocidente. Certo manuscrito persa especifica seu lugar de origem como sendo a Terra Santa, o termo usado pelos muçulmanos e pelos cristãos para referir-se à Palestina.
O próprio túmulo em Srinagar constitui anomalia interessante na arqueologia local. Enquanto a lápide da tumba data da época islâmica, embaixo dela há um sepulcro mais antigo, alinhado na direção leste-oeste. Como muçulmanos são enterrados na direção norte-sul e os hindus cremam seus mortos, provavelmente o ocupante era judeu (túmulos judaicos, inclusive em Caxemira, costumam ser orientados na direção leste-oeste). Os islamitas não reconhecem nenhum profeta depois de Maomé; então, a forte tradição local de que a tumba abriga um profeta sugere, principalmente na Caxemira muçulmana, que ela data de época anterior à vida de Maomé (570-632, aproximadamente). Esses sinais indicam que o túmulo contém os restos de um "profeta" judeu, sepultado em alguma época anterior ao surgimento do Islã.
 
Na década de 70, o professor Fida Hassnain, diretor de arquivos e antigüidades de Caxemira, efetuou uma investigação sobre o assunto. Seu estudo dos documentos convenceu-o da autenticidade do caso, embora ainda faltem evidências arqueológicas referentes à data e à procedência do morto.
O projeto de se fazer uma escavação em larga escala, financiado pela seita ahmaddiya, acabou fracassando. Mas uma pesquisa superficial realizada por Hassnain resultou numa descoberta intrigante: na extremidade noroeste da câmara há um bloco de pedra do tipo que era usado pelos peregrinos para acender velas. Raspando a espessa camada de cera, Hassnain encontrou um rosário e um crucifixo deixados por visitantes cristãos. Chegou então à superfície da pedra, 18 que mostra o que parece ser a impressão de dois pés humanos profundamente escavados no lado de dentro. As "impressões" foram esculpidas e talvez pretendessem representar os pés de um homem crucificado.
Na ausência de firme corroboração arqueológica, a questão do sepultamento do Cristo em Caxemira apóia-se na evidência das histórias. A seita ahmaddiya aborda o assunto de maneira direta. Existe uma série de versões, originárias sobretudo do norte da Índia, que conta a história de um mestre igual ao Cristo, vindo da Terra Santa, que buscou refúgio naquele país e viveu até o fim de sua velhice em Caxemira. A explicação óbvia é que o Cristo fugiu para o oriente depois de suas provações na Terra Santa. Afinal, os últimos dias do Cristo na Palestina estão envoltos em mistério. Para reforçar a história, a seita indica que o período dos reis (como o rajá Gopadatta, citado no texto de 1766), quando Yuz Asaf atuou, localiza-se em meados do século 1, nas décadas seguintes à crucifixão do Cristo (ocorrida por volta do ano 33). Esses fragmentos de prova podem esclarecer o "desaparecimento" final do Cristo, tão misteriosamente descrito no Novo Testamento. Há outras versões para suas atividades após a falsa morte. Os rosacruzes, por exemplo, sustentam que ele voltou para o meio dos essênios, aí atuando como mestre de iniciados.
Talvez se possa avaliar a teoria dos crentes ahmaddiyas examinando as evidências a partir da outra extremidade da longa jornada de Yuz Asaf — a Palestina, o relato bíblico. Há duas questões principais: Jesus poderia ter sobrevivido à crucifixão? E, em caso afirmativo, seria a Índia historicamente verossímil como o último lugar de descanso para um mestre da Palestina no século 1?
 
A teologia cristã, sem dúvida, tem muito a dizer sobre a primeira pergunta. Insiste em que o Cristo morreu na cruz e que continuou a viver após a ressurreição, de forma mais que espiritual, até subir ao céu. O Novo Testamento salienta que sua ressurreição deve ser entendida no sentido físico. Quando Maria Madalena foi com as companheiras à sepultura de Jesus, descobriram que o corpo desaparecera e que a pedra que selava a entrada estava afastada. Se o Cristo tivesse ressurgido apenas em forma de espírito, não seria necessário afastar a pedra. Logo depois ele mostrou-se para Maria e em seguida para dois discípulos que viajavam a caminho de Emaús. Partilhou com eles a refeição de modo nada espiritual (Lc 24, 13-32). Mais tarde apareceu na reunião dos onze apóstolos restantes, que ficaram assustados, achando que tinham visto um espírito, até que o Cristo os convenceu a tocar nele e comprovar que era realmente de carne e osso (Lc 24, 36-40 e J0 20, 27-28). Sentou-se e comeu, enquanto conversava com os discípulos, desconcertados.
Além dessas aparições constantes do Evangelho, Paulo acrescenta que o Cristo foi visto por "aproximadamente quinhentos fiéis de uma só vez" e também, em outras ocasiões, por ele e Tiago. O que se pode dizer a respeito dessas afirmações sobre a ressurreição do Cristo? Uma abordagem racional e materialista concluiria que jamais poderia ter ocorrido a "ressurreição" de um homem morto. Aliás, quando José de Arimatéia foi pedir o corpo de Jesus a Pilatos, o romano se admirou de que o mártir tivesse morrido tão depressa (Mc 15, 44). Se as histórias sobre as aparições do Cristo são autênticas, ele deve ter sido sepultado em estado de coma, do qual se recuperou mais tarde. Ainda hoje, os médicos discutem a definição exata de morte. Os anais da medicina do século XX estão repletos de casos de pessoas aparentemente mortas que retornaram à vida. Um exemplo interessante vem do escritor inglês Robert Graves, que acrescentou uma nota de rodapé a seu estudo sobre a crucifixão, dizendo que ele mesmo fora considerado morto por um experimentado oficial médico, após a batalha de Somme, em 1916. Deixado num canto, sem atendimento, durante um dia inteiro, acabou mostrando sinais de recuperação: "Consegui conservar meu calor vital por um tempo pouco menor que as trinta horas que Jesus passou na sepultura, embora houvesse apenas uma maca entre mim e a terra nua; e a resistência física dos santos orientais é notoriamente maior que a de pobres pecadores europeus..."
A sobrevivência da mensagem
Não parece ultrapassar os limites da razão a idéia de que alguém com o extraordinário poder mental de Jesus revivesse após permanecer em estado de animação suspensa, semelhante à morte, por até dois dias. Afinal, essa proeza é comum entre iogues indianos, que sobrevivem enterrados vários dias. Tal solução parece satisfazer as evidências do Novo Testamento, mas seria inaceitável para os cristãos, que insistem numa verdadeira ressurreição dos mortos como sinal da divindade do Cristo.
Tanto o sectarismo cristão quanto o ceticismo mostram-se improdutivos para o historiador. Não se pode considerar um artigo de fé como evidência histórica; por outro lado, a negação que os céticos fazem das aparições do Cristo após a crucifixão choca-se com a explicação mais natural para o explosivo crescimento da igreja primitiva. Só se tem a palavra dos autores sacros para testemunhar a reaparição do Cristo, ao passo que, sobre a crucifixão, há referências em escritos romanos e judaicos do período. Mas sabe-se que o cristianismo se alastrou como fogo em meados do século 1 d.C.
 
Qual teria sido a causa? O Novo Testamento apresenta a cena muito plausível de um pequeno grupo de seguidores indecisos e extremamente desiludidos pela prisão e crucifixão de seu líder. Mas os discípulos se revitalizaram com a promessa da volta do Messias, do Espírito da Verdade. A crucifixão do Cristo, confirmada por inúmeras testemunhas, é o sustentáculo da fé dos primeiros apóstolos do cristianismo: "Se o Cristo não ressuscitou, é vã nossa fé", afirma Paulo (1 Cor 15, 17). Jesus, porém, continuou a viver após o suplício na cruz por ter ressuscitado ou por não ter morrido? Para muitos, a pergunta mostra-se irrelevante, O fundamental é que sua lição de amor (a Deus, a si mesmo, ao próximo, ao inimigo) não morreu —nem no Gólgota, nem em Caxemira.
Jesus esotérico, uma encarnação do Cristo
A figura de Jesus permite uma variedade de interpretações, pelos lados histórico, mítico, místico ou esotérico. Os que a estudam sob este último aspecto partem de uma tradição extremamente difundida entre muitas culturas religiosas asiáticas: a existência de homens especialmente dotados e preparados para ser veículos de manifestação de uma influência redentora da humanidade ou de parte dela. A essa energia dá-se o nome de "princípio crístico".
Aos profetas judeus outorgava-se o título de Emanuel, ou "Deus em si mesmo", significando que seriam inspirados pelo Espírito Divino. Os meninos escolhidos para essa missão eram educados em escolas ou mosteiros destinados ao preparo e à formação de profetas. Logo proferiam votos de ascetismo e se consagravam à peregrinação no deserto. No caso de Jesus, sacerdotes da Ordem dos Essênios teriam detectado seu extraordinário potencial quando falou aos doutores do Templo. Seu período de iniciação prolongou-se até os trinta anos, quando passou a manifestar o principio crístico.
Essa tradição é muito conhecida também nas civilizações budistas, onde existem as figuras dos bodisatvas, muito semelhantes aos profetas hebreus. Eram seres cuja alma espiritual (bodhi) se achava desenvolvida o suficiente para relacionar-se com o mundo divino durante sua encarnação terrena. Essa perfeição supunha uma completa penetração do corpo pela alma espiritual ou princípio divino. Depois de tal manifestação, que exerce sobre a humanidade uma influência regeneradora e purificadora, um bodisatva não tem necessidade de reencarnar. Entra na glória do nirvana (estado de não-ilusão) e permanece no mundo divino, de onde continua a influenciar a humanidade.
 
O Cristo, na tradição esotérica, é mais que um bodisatva. É uma potestade cósmica, um princípio universal ou verbo solar que se manifesta por meio de um homem especialmente dotado e preparado — Jesus.

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