Michael, O Mensageiro de Cristo
Rudolf Steiner
Londres, 2 de Maio de 1913
(CONTINUAÇÃO)
Michael inspirou a humanidade por muitos séculos, por mais de cinco séculos antes do Mistério do Gólgota, como foi indicado nos antigos Mistérios, por Platão e assim por diante. Mas logo depois que o Mistério do Gólgota aconteceu e que Cristo Se uniu á evolução da terra, o impulso direto de Michael cessou. No tempo em que os antigos documentos que possuímos sob forma de Evangelhos foram escritos – como disse em meu livro O Cristianismo como fato Místico – o próprio Michael não pode mais inspirar a humanidade. Mesmo assim, os seres humanos continuaram a ser inspirados pelos companheiros de Michael entre os Arcanjos de tal forma que muita força anímica foi recebida inconscientemente através de inspiração.
Os próprios escritores dos Evangelhos não tinham um claro conhecimento oculto, pois a inspiração de Michael chegou ao fim logo após o Mistério do Gólgota e os outros Arcanjos, companheiros de Michael, não podiam inspirar a humanidade de tal forma a tornar o Mistério do Gólgota compreensível. Isto explica as inspirações divergentes dos vários ensinamentos cristãos. Muito nestes ensinamentos foi inspirados pelos companheiros de Michael. Ou seja, os ensinamentos não foram inspirados pelo próprio Michael, mas carregavam a mesma relação quanto a sua inspiração que os planetas têm com o poderoso sol.
Somente agora, em nossa época, existe novamente a influência de Michael, a direta inspiração de Michael. A preparação para esta inspiração direta de Michael foi acontecendo desde o século XVI. Naquele tempo, foi o Arcanjo que estava mais próximo a Michael que deu a inspiração à humanidade que levou ás grande conquistas da moderna ciência natural. Esta ciência natural não é atribuível a Michael, mas a um de seus companheiros, Gabriel. A tendência desta inspiração científica é criar uma ciência, uma imagem de mundo relacionada ao cérebro físico, que promove a compreensão somente do mundo material.
***
Há poucas décadas Michael tomou o lugar de inspirador da ciência. E nos próximos séculos Michael dará ao mundo algo que, no sentido espiritual, será igualmente importante – de fato mais importante, porque mais espiritual – incomensuravelmente mais importante que a ciência física que avançou passo a passo desde o século XVI. Assim como seu companheiro Gabriel doou ao mundo a ciência, assim também irá doar á humanidade o conhecimento espiritual, do qual nós só estamos agora no início. Assim como quinhentos anos antes do Mistério do Gólgota Michael foi enviado como o mensageiro de Jehovah, como reflexo do Cristo, para fazer soar o tom daquela era, assim como ele era então o mensageiro de Jehovah, assim também agora, em nossa própria época Michael se tornou o mensageiro do próprio Cristo. Tal como nos antigos tempos Hebreus, que foram uma preparação direta para o Mistério do Gólgota, os iniciados entre os Hebreus podiam voltar a Michael como a revelação exterior de jehovah ou jahvé, assim somos agora capazes de voltar a Michael – que de mensageiro de Jehovah se tornou o mensageiro do Cristo – para receber dele, durante os próximos séculos revelação espiritual crescente, que irá lançar mais e mais luz sobre o Mistério do Gólgota . O que aconteceu há 2000 anos só podia se tornar conhecido no mundo dentro das várias seitas Cristãs e sua profundidade só pode ser desvelada no século XX, quando ao invés ciência, o conhecimento espiritual do nosso tempo presente. Seremos capazes de perceber que nas últimas décadas uma porta se abriu, através da qual a compreensão pode entrar.
***
Michael pode nos dar nova luz espiritual que pode ser vista como uma transformação da luz que foi dada através dele no tempo do Mistério do Gólgota; e as pessoas hoje podem receber luz. Se pudermos compreender isso, podemos alcançar a abrangência da nova época que está agora vertendo sobre nós mesmos; podemos estar conscientes do despertar de uma revelação espiritual que está por entrar na vida da humanidade sobre a terra nos próximos séculos. De fato, porque os seres humanos se tornaram mais livres do que em tempos passados, devemos ser capazes através de nossas vontades, de progredir para o estágio no qual esta revelação pode ser recebida.
***
Devemos agora fazer referência ao evento nos mundos superiores que levou a este estado alterado da situação – a este tempo de uma renovação do Mistério do Gólgota.
***
Lembremos o que foi dito – que nos mundos invisíveis não há morte. O próprio Cristo, porque desceu ao nosso mundo, passou por uma morte semelhante a dos seres humanos. Quando novamente se tornou um Ser espiritual, Ele reteve a memória de Sua morte; mas como um ser de hierarquia dos Anjos, na qual Ele continua a Se manifestar externamente, Ele só pode experimentar uma diminuição de consciência.
Através daquilo que era uma necessidade para a evolução humana – desde o século XVI – ou seja, o triunfo da ciência natural em todos os níveis – algo penetrou a evolução humana que também era significativo para os mundos espirituais. Com o triunfo da ciência, sentimentos materialistas e agnósticos de intensidade maior do que nunca antes surgiram na natureza humana. Houve tendências materialistas em tempos antigos, mas não o intenso materialismo que prevaleceu desde o século XVI. De maneira crescente, as almas que passaram pelos portais da morte para dentro do mundo espiritual carregavam em si o surgimento das idéias materialistas que tiveram na terra. Depois do século XVI, mais e mais de tais sementes do materialismo foram levadas adiante – e estas sementes se desenvolveram de forma particular.
***
Cristo veio no antigo povo Hebreu e foi levada a Sua morte dentro dele. O Ser Angélico que, desde então, tem sido a forma externa assumida por Cristo, sofreu uma extinção de consciência ao longo dos dezenove séculos seguintes como um resultado das forças de oposição materialistas que foram trazidas para dentro do mundo espiritual pelas almas humanas que passaram pelo portal da morte. Este declínio de consciência nos mundos espirituais levara á ressurreição da consciência do Cristo nas almas dos seres humanos que vivem na terra no século XX. Num certo sentido, pode ser dito que, iniciando no século XX, a consciência perdida pela humanidade surgirá novamente para a visão clarividente. De início apenas alguns e depois um número sempre crescente de seres humanos no século XX serão capazes de perceber a manifestação do Cristo Etérico – por assim dizer, o Cristo sob a forma de um Anjo. Foi pelo bem da humanidade que o que podemos chamar de uma extinção da consciência ocorreu nos mundos imediatamente acima do nosso mundo terrestre, onde o Cristo tem sido visível no período entre o Mistério do Gólgota e os dias de hoje.
**
No tempo do Mistério do Gólgota algo aconteceu num lugarejo pouco conhecido na Palestina, algo que foi o maior acontecimento de toda a evolução humana, mas pouco foi percebido pelas pessoas daquela época. Se isso pode acontecer, porque ficarmos espantados quando ouvimos que condições havia durante o século dezenove, sobre aquelas pessoas que desde o século XVI passaram pela morte e encontraram o Cristo?
***
Portanto a consciência do Cristo pode estar unida á consciência terrestre da humanidade daqui pra frente; pois a morte da consciência do Cristo na esfera dos Anjos no século XIX significa a ressurreição da consciência direta Cristo – ou seja, a vida do Cristo será sentida nas almas humanas cada vez mais como uma experiência pessoal direta do século XX em diante.
***
Uma vez aqueles que podiam ler sinais dos tempos foram capazes de perceber, contemplando o Mistério do Gólgota, que Cristo havia descido do mundo espiritual para viver na terra e se submeter á morte, de tal forma que através de Sua morte as substâncias incorporadas Nele pudessem passar para a terra; da mesma forma, hoje, somos capazes de perceber que em certos mundos imediatamente atrás do nosso uma espécie de morte espiritual, uma suspensão de consciência aconteceu. Isto é uma renovação do Mistério do Gólgota, a fim de possibilitar um despertar da consciência do Cristo anteriormente oculta no interior das almas humanas na terra.
***
Desde o Mistério do Gólgota muitos seres humanos foram capazes de proclamar o Nome de Cristo, e do século XX em diante um número sempre crescente será capaz de tornar conhecido o conhecimento do Cristo que é dado na Antroposofia. A partir de suas próprias experiências serão capazes de proclama- lo Já duas vezes o Cristo foi crucificado: uma vez fisicamente, no mundo físico no início de nossa era, e uma segunda vez espiritualmente, no século XIX, da maneira descrita acima. Poder-se-ia dizer que a humanidade experimentou a ressurreição de Seu corpo numa época passada e irá experimentar a ressurreição de Sua consciência do século XX em diante.
As breves indicações que pude lhes dar gradualmente encontrarão seu caminho para dentro das almas humanas e o mediador, o mensageiro será Michael, que é agora o embaixador do Cristo. Assim como uma vez ele levou almas humanas á compreensão da vida do Cristo descendo do céu para a terra, assim também ele está agora preparando a humanidade para experimentar o surgimento da consciência do Cristo da esfera do desconhecimento para o âmbito do conhecido. E assim como na época da vida terrestre do Cristo a maior parte dos seus contemporâneos foram incapazes de acreditar que acontecimento magnífico havia acontecido na evolução terrestre, assim também, em nosso próprio tempo, o mundo exterior está lutando para fazer aumentar o poder do materialismo e irá continuar por muito tempo a olhar para o que foi dito hoje como pura fantasia, sonho e talvez até desatada loucura. Isto, também, será o veredicto sobre a verdade no que diz respeito a Michael, que no momento atual está começando a revelar o Cristo de novo. Mesmo assim, muitos seres humanos reconhecerão a nova aurora se aproximando, que durante os próximos séculos irá verter suas forças para dentro das almas humanas como um sol – pois Michael pode ser sempre associado ao sol. E mesmo que muitos falhem em reconhecer esta nova revelação de Michael, ela irá se espalhar pela humanidade inevitavelmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário